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ORIENTAÇÃO SEXUAL: QUESTÃO AINDA POUCO FALADA




Escolher este assunto em meio a um cenário de muitos acontecimentos simultâneos envolvendo o tema orientação sexual é talvez abrir caminho para a ideia de que apoio esta decisão judicial que coloca a homossexualidade como patologia e autoriza psicólogos a "tratar" homens e mulheres que desejam fazer "terapia de reversão sexual"  - o que não é verdade. Tampouco este texto deseja esgotar um assunto complexo como este e de antemão, convido aos que passaram por processos bem sucedidos ou não se manifestem porque tem sempre mais vida a palavra daquele que "sente na pele".

Quero trazer luz sob uma outra perspectiva: pessoas em processo de mudança de sexo com uso de hormônios (casos de automedicação), intervenções invasivas e depois mudaram de ideia. Na reportagem que li, havia em boa parte das falas o uso das palavras, busca de apoio, conseguir se encaixar. Em geral acontece com indivíduos bem jovens. O termo usado é destransicionar.

Nesse caso a ajuda psicológica é indicada para o indivíduo se alinhar com o seu propósito interior, pois há casos de tentativa suicídio, efeitos colaterais dos medicamentos e um sem número de conflitos após a transição. É importante ressaltar que esta transformação é um fenômeno complexo. Não sei se existe uma estatística oficial desta destransição, mas casos têm surgido. Para os interessados, é importante estar informado de todo processo.

Hoje, o início da vida sexual acontece de modo completamente diferente das gerações anteriores. É um período de experimentação mais aberto e pode acontecer de ser desde sempre claro para um (a) jovem a sua orientação, mas pode ser "uma vivência passageira" sim. Muitas vezes falta a estes jovens hiperconectados, mas ainda sem o discernimento necessário ter alguém com mais experiência para falar o que sente. O sexo apesar, de muito exposto em toda parte, ainda é tabu e sempre vai ser porque se refere a uma parte de nós muito íntima, íntima mesmo e não é todo mundo que tem facilidade de se expor. Além do mais, boa parte das dúvidas não são nem tanto sobre o ato em si, mas o aspecto emocional que implica neste encontro, o relacionamento.




Photo by andrew jay on Unsplash

Todos em certo grau, necessitamos nos sentir aceitos, mas não há época da vida em que esta suscetibilidade, esse desejo de pertencimento é tão intenso como na adolescência. Tudo tem cores muito fortes para esta pessoa ainda em desenvolvimento bombardeada pelas mídias que enaltecem a juventude e a colocam como um dos seus alvos mais fortes na indústria do consumo, que também criam ideais (beleza, produtos...), familiares, amigos, seus hormônios e seu ser inteiro cheio de dúvidas que busca encontrar seu caminho... Perceber sua sexualidade indo em direção contrária do socialmente esperado talvez nem seja tanto a questão aqui, mas ter encontrado "a sua turma" LGBT que também tem seus códigos, seus ideais a serem seguidos. Encontrar os seus amigos de ideias e caminhos afins tem quase sempre muito fervor porque é muito afeto envolvido. 

Então, talvez seja no meio deste ambiente que o (a) jovem decide fazer a sua transição podendo não estar claro para ele (ela) se muda para si mesmo ou se é pelo grupo que adora ou se a expressão do seu desejo precisa passar por mudanças tão radicais. Sob este ângulo, em estado de confusão, pode haver indicação de tratamento psicoterápico não para "induzir" esta ou aquela orientação afetiva - o lugar do psicólogo jamais será induzir o que quer que seja, mas para auxiliar o indivíduo a encontrar a orientação que de fato o (a) expressa, independente de pessoas ou grupos. Uma pessoa que investiu em uma mudança de sexo com tudo que isto envolve e se percebe insatisfeita, presa de grandes inquietações, buscando ajuda neste caso, merece ser recebida. Hoje fala-se também sobre abolir, dar mais fluidez ao se definir de um determinado gênero - Queer. 


Na minha opinião, assim como a pessoa acima do peso e saudável que antes de se submeter á cirurgia deve estar bem certa se deseja emagrecer para si mesmo ou para os outros, uma pessoa que deseja passar por todo processo de transição que pode ser arriscado para sua saúde, uma transformação imensa em todos os setores, deve estar segura da sua decisão, se está fazendo porque é a sua verdade interior ou se há outros motivos, idealizações que devem ser enfocados...  O psicólogo sempre faz parte de equipe multidisciplinar para que uma experiência tão complexa em tantos níveis, seja vivida pela pessoa da melhor forma possível. 

Escolhi a canção Recado do grande Gonzaguinha para ilustrar este texto, porque a vida daqueles que se sentem "à margem" é um caminho muitas vezes permeado de abusos, violências, solidão e que é preciso se unir, lutar por mais dignidade, pelo direito, pela felicidade. Convido aos mais jovens a um mergulho na obra desde grande compositor de letras de protesto e de amor. 

São leões, tantos leões...

Regina Bomfim

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Deixo abaixo o link da reportagem:

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