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Mostrando postagens de janeiro, 2011

VIVA O LUTO

Por Márcia Cabrita Eu fiquei gravemente doente. Ao contrário do que muitos fantasiam, não tirei de letra. Não sei o porquê, mas existe uma ideia estapafúrdia de que quem está com câncer tem que, pelo menos, parecer herói. Nãnãninã não! Quem recebe uma notícia dessa não consegue ter pensamentos belos. Bem... eu não conseguiria. A cobrança de positividade acabou se tornando um problema. Olhava-me no espelho branca, magrela e de cabelos curtinhos (antes de caírem) e achava que estava pronta para fazer figuração em "A lista de Schindler". Achava que não tinha chance de sobreviver à cirurgia, só pessoas que não tinham maus pensamentos sobreviviam. Muitas vezes deixei de comprar coisas pra mim porque tinha que deixar tudo para minha filha. Bem, se na minha cabeça era esse o pensamento que reinava... Sem chance. O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas, as mães não têm mais o direito de embar

IR E VOLTAR

Por José Saramago Este meu gosto de museus e pedras velhas que no parecer de alguns denunciará uma suspeita tendência por evasões, é pelo contrário, o sinal mais certo de uma viva radicação no mundo em que estou. De fato, não creio que alguém possa com verdade, dizer-se do seu tempo, se não se sentir envolvido num todo geral que abarque o mundo como ele é e como ele foi. Aquele corpo ressequido, dentro da sua caixa de vidro, no Museu Britânico, que foi um corpo vivo há três mil anos, desencadeia imediatamente em mim um processo mental que me mostra a história dos homens como uma imensa rede de braços, uma iluminação de olhos, um rumor de passos dentro de um formigueiro. E quando numa noite de Paris dei com a Notre Dame dentro do nevoeiro, sob a luz amortecida dos projetores, e parecendo toda ela uma construção estranhíssima de pedra roxa, não tive mão em mim que evitasse umas tantas reflexões caseiras que logo me afastaram das pacíficas banalidades estéticas. Aqui em Portuga

INTIMIDADE CONSIGO MESMO

SENTIR AINDA DÁ MEDO Você já se pegou sonhando em ser outra pessoa, vivendo em outro lugar? Quando nos distanciamos de nossa realidade, distanciamo-nos de nós mesmos. Então, é hora de perguntar: por que está tão difícil levar adiante a vida? Aceitar estar nesta vida, com este corpo. A falta de contato conosco cria a sensação de solidão e isolamento. O prazer de estar consigo mesmo cria a disponibilidade para estar com o outro. Uma pessoa chata é aquela que não consegue estar consigo mesma e espera que o outro a tolere! Se pararmos para observar o que pensamos sobre nós mesmos, iremos nos dar conta do quanto nossa auto-avaliação possui o poder de nos aproximar ou nos distanciar de nós mesmos. Para termos uma relação saudável, próxima e direta com nós mesmos, precisamos parar de nos auto-rejeitar. Quando estamos bem, sentimo-nos confortáveis em nosso corpo: a respiração flui, a barriga está relaxada e as costas estão naturalmente eretas. Quando negamos a nós mesmos, nosso corpo rea

AS PROFUNDAS CRISES QUE SE ESCONDEM

Por Regina Bomfim Aprender é sentir. É um extrato mais profundo além da racionalidade de um conhecimento sistematizado. Em inglês, decorar é to learn by heart. Há tantas coisas que sei e ainda não sinto, há tantas outras que não sei... Na minha opinião, é no sentir que um ato, pensamento se tornam meus, os livros que leio e todos os saberes que me chegam, são por mim apropriados. O sofrimento ainda me assusta, me inibe, mas ainda aprendo a não deixar que ele me restrinja. É um jogo que ora perco, ora ganho. Ninguém está livre de profundas crises. Quanto tempo dura? O tempo que meus olhos permitem ver. E sentir. Quanto tempo dura? Ps: Para a psicóloga desaparecida no dia 31/12/2011 comentado nos jornais .

JÚLIA, LUIZA E LUCAS

Eles estão só, não falam porque acham que não serão ouvidos, e não acham nenhum adulto que os ajude. Júlia, 15 anos, cursa o primeiro ano do ensino médio e quer parar de estudar. Neste ano, seu aproveitamento escolar foi, segundo ela mesma, péssimo. Não estudou, as notas nas avaliações foram muito baixas e não conseguiu estabelecer relação com nenhum colega de classe. A escola avisou aos pais que o ano já está perdido e que, apesar dela ser bem comportada, no espaço escolar, não rende nos estudos e está sempre isolada. A coordenadora sugeriu que os pais procurassem tratamento psicológico para a garota, porque ela pode estar deprimida por não ter conseguido se adaptar à nova escola, para a qual foi transferida neste ano. Os pais tem uma hipótese a de que a filha foi vítima de "bullying". Por isso já tem uma solução para o problema - que é uma nova tranferência de escola. Aliás, estão atualmente visitando escolas, conversando com coordenadores e consultando gui

AS "LINHAS TORTAS" DO AMOR

Há uma distância que não entendo, de uma vida que só tem o apelo da sobrevivência. Assim parece ter sido feita essa mulher que o corpo e a alma só pensa em trabalhar para cuidar da filha que criou sem pai e a vida é como - "matar um leão por dia" - a falta de tempo; A vida é áspera como o chão sujo da faxina que a minha mãe precisa fazer pra me criar; não há nenhuma poesia nem harmonia na alma dessa mulher que o corpo é um pano que limpa o chão... não perde tempo por preocupação em nutrir e cuidar. Sou filha desta mulher que me deu a vida e me sustenta. O corpo dessa mulher guerreira é forte, mas sem identidade porque é uma mente que nunca comtempla; é um corpo e uma mente que vivem em função do trabalho, para comer, vestir, tentar viver. Sou filha desta mulher que me deixa sozinha e não me entende. Ela trabalha, luta, seu corpo dói, mas ela insiste. Eu a contemplo como alguém distante de mim porque meus pensamentos e buscas são tão abstratos pra ela e me sint