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FALANDO DE SEXO

FALANDO DE SEXO


Por Regina Bomfim


O que fazer quando um jovem começa a despertar sua sexualidade de forma intensa sem cair na armadilha de dizer, se for menina, que homem não presta e que só estão interessados em "usar" as meninas? No caso dos meninos, já há um incentivo, até mesmo uma pressão social para a vivência sexual, mas que muitas vezes descamba para uma atitude que desvaloriza o ser humano de outro gênero. O que fazer para que o nosso discurso não transforme o sexo em algo sujo, que deve ser temido e causador de doenças? O que fazer quando o mundo da TV e da internet se antecipa em fartas imagens muitas vezes gratuitas que muitas vezes ignora o prazer da mulher (isso está mudando com a presença de mulheres na criação e roteiro)? O que fazer para não perder a oportunidade de criar com o jovem um canal de confiança, apesar das dificuldades de abordar o assunto?

Falar de sexo é falar de prazer, de um prazer que não podemos negar que não existe. Seria encarar o assunto de modo simplista falar de coisas negativas porque minha experiência foi negativa ou falar das coisas positivas, porque foi boa minha experiência e esquecer que existem alertas a serem dados quanto à necessidade de proteção e da existência de pessoas que exercem a sua sexualidade de modo como modo de perpetuar um relacionamento abusivo?. Sem me alongar nesta questão, dizendo isto, estou me referindo somente ao abuso sexual. A psicologia não considera  as diferentes orientações sexuais como perversão, pois a partir da Resolução CFP No 001/99 é considerada anti - ética qualquer atitude que vise a manutenção de preconceitos e mitos relacionados a diversidade da manifestação da sexualidade humana.

 Como diz Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia, é preciso exercer essa penosa tarefa de Pensar Certo que significa estar aberto a indagações e se permitir a respondê-las sem se guiar por preconceitos de qualquer espécie. A fidelidade na capacidade de abordar os múltiplos aspectos de um assunto, mesmo que minha vivência seja negativa, buscando ser impermeável à percepções pessoais ou ideológicas.

 Assumir as dificuldades do assunto (ou não), mas não fugir dele, ao contrário, aproveitar o ensejo para o exercício de entender essas inibições. Tanto na família,  na pedagogia quando falamos de uma educação sexual, quanto na psicologia, o saber deve ser sempre algo à serviço da libertação do indivíduo, para que o mesmo possa desenvolver e exercer sua capacidade crítica, sua autonomia.

O que está em jogo é deixar aberta a porta da liberdade de expressão dos sentimentos do jovem, sem criticar, mas acolher. Não vejo o sexo desligado do afeto, embora saiba que seja possível para alguns essa desvinculação. À luz da psicologia, a palavra afeto tenha uma conotação bem mais ampla pois envolve todas as emoções do indivíduo tanto positivas quanto negativas. Aqui nos referimos apenas às trocas positivas. 

Está bem! É possível ter prazer com quem só te atrai fisicamente, mas na minha opinião, há que se pensar em contrapartida, que vivemos nas relações amorosas nos últimos 60 anos uma liberdade jamais pensada, porém, a perplexidade e a solidão imperam nesta ampla permissividade dos sentidos, é como se a livre expressão do corpo não trouxesse às pessoas a felicidade esperada, mas tornasse as relações mais burocráticas, confusas.

Na minha opinião, pode ser bem mais gratificante quando existe uma relação afetiva entre ambas pessoas, uma relação de igualdade, carinho, conversa... Somos humanos, somos complexos e a nossa vivência da sexualidade jamais poderá se igualar aos animais. Sexo é prazer, uma forma fantástica de expressão de afeto que pode produzir a possibilidade de nos enriquecer como seres humanos na convivência com o outro.

O sexo está no olhar, no toque, nas experiências que compartilhamos com esse outro desejado. Sexo é o momento certo e não uma imposição do grupo. Sexo não é o desvalorizar o outro, mas uma disposição feliz de dar e receber amor.

Meu intuito de tratar este assunto é contribuir para a reflexão de que falar de sexo é falar do quanto nossos relacionamentos podem ser mais afetivos, cuidadosos conosco mesmos e com o outro, que o sexo é apenas mais uma modalidade na nossa vida relacional. E o jovem precisa ler isso no nosso gesto e se sentir à vontade para falar o que sente vendo nossos esforços de pensar sobre a vida de modo mais aberto e até mesmo honesto em suas limitações pessoais. Se conseguirmos evitar uma iniciação sexual precoce será ótimo, se não, apenas demos nossa contribuição para que a mesma seja vivida com consciência de que o prazer exige responsabilidade.
Regina Bomfim

Bibliografia:

FREIRE, Paulo - Pedagogia da autonomia Editora Paz e Terra 2001

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